Tempos atrás, fui convidada para contar minha história para um site de focado em mulheres. Queriam histórias inspiradoras, e me chamaram para o desafio.
Confesso que fiquei surpresa e refleti muito por onde começar e o que de interessante teria para contar. Mas afinal, são 45 anos de situações, desafios, alegrias (tantas!), decepções (tantas), aprendizados e ensinamentos. Como, portanto, sintetizar tudo isso?
Entre as lembranças, comecei a refletir o que haveria em comum em tudo que me fez chegar até aqui, para usar esse denominador comum para construir um enredo interessante e motivador ao mesmo tempo (como era o esperado).
e assim escrevi essa história….

“Hoje, casada com uma pessoa incrivelmente parceira, mãe de dois lindos filhos e uma executiva realizada, percebi que o que mais fiz em minha trajetória até aqui foi identificar, criar e agarrar a maior parte das oportunidades que passaram pelo caminho. E quando elas não existiam, tratei de inventá-las. Então, aqui lhes conto uma vida de oportunidades aproveitadas e, muitas vezes, inventadas.
Tudo começou muito cedo. Perdi a conta de quantas vezes mudei de escola quando criança. Minha família não tinha casa própria e isso não nos segurava por muito tempo no mesmo lugar. Foi com base nisso que acredito ter desenvolvido minha capacidade de adaptação. Sempre que chegava a uma nova escola, tratava logo de me enturmar e a marcar presença.
Lembro-me, como se fosse hoje, do meu primeiro dia de aula na escola pública em Juara (uma pequena cidade ao Norte do Mato Grosso). A cidade era nova, a escola era nova, os amigos eram novos, os costumes diferentes e as exigências elevadas. Tudo muito diferente para uma menina paulistana recém-chegada da cidade grande.
Os primeiros dias foram interessantes, mas sentia que precisa preencher mais meu tempo e contribuir com algo que pudesse fazer a diferença. De fato, me diferenciar naquele mar novidades.

Foi aí que certo dia, andando pelos corredores da escola, vi uma salinha empoeirada, fechada com pilhas e pilhas de livros. Era a biblioteca da escola. Sem uso, desinteressante e totalmente desorganizada. Encontrei ali o meu primeiro grande projeto.
Entrei na sala da diretora e pedi a ela a permissão de organizar a biblioteca da escola. Meu plano era usar as minhas tardes livres para limpar, catalogar e organizar aquele caos, e transformar aquilo em um lugar interessante para todos. Fiz! Simplesmente fui lá e fiz! Foram meses!!!! Fiquei exausta. Às vezes desanimava, tinha vontade de desistir, às vezes me empolgava, e queria continuar. Minha missão começou a despertar o interesse de outros estudantes da escola e, tempos depois, virou um mutirão de crianças a fim de colocar aquele projeto de pé. Recebemos doações, nos divertimos. Concluímos, deixamos coisas a desejar. Foi talvez um dos maiores prazeres que já senti na vida. Tinha 12 anos.
Descobri com esse episódio pré-adolescente que a vida é feita de desafios. E são eles que nos levam aonde quer que queiramos chegar. E foram os desafios agarrados que me fizeram chegar até aqui.

Minha outra oportunidade criada veio do esporte. Nunca fui boa em nenhum. NENHUM. Era sempre a última a ser escolhida. Quando era! Mas morando em uma cidadezinha (ainda em Juara) em que jogar vôlei era uma forma de ser aceita, tinha de dar um jeito naquela situação, e rápido. Não sabia jogar, mas me dei conta de que poderia ensinar. Criei meu próprio time. consegui patrocínio dos comerciantes locais para comprar uniforme e o time ficou em terceiro lugar no campeonato daquele ano. Tinha 13 anos.


Outro episódio que me lembro bem, inclusive da sensação, foi minha estréia como modelo. Assim como muitas adolescentes já tive minha vontade de ser modelo. E mesmo não sabendo desfilar e de nem tendo atributos físicos satisfatórios, não pensei duas vezes em me arriscar a participar do evento do ano que aconteceria na cidade. Era um desfile em que quase todas minhas amigas participariam. As inscrições já haviam encerrados, mas resolvi aparecer por lá mesmo assim. Pedi para a organizadora deixar eu fazer o teste. Insiste tanto que ela cedeu. Fui lá, “subi no tênis” e mostrei atitude no teste. Fui escolhida. Apesar de minha longa carreira como modelo ter durado apenas esse evento, me senti incrivelmente realizada. Fui capaz! Tinha 14 anos.
E foi com os mesmos 14 anos que comecei a trabalhar. Isso foi logo que voltamos do Mato Grosso para São Paulo. As coisas estavam bem apertadas e tinha de ajudar nas despesas da casa. O emprego era em uma loja de sapatos. O lugar era pequeno, simples e dono um maluco, diga-se de passagem! Mas o prazer de conquistar o meu primeiro salário compensou qualquer chateação e privações com meus amigos adolescentes.
Depois disso não parei mais. E nunca fui de recusar trabalho. Sempre achava que haveria algo a aprender. Além do mais, a necessidade de trabalhar para me sustentar, pagar meus estudos e ajudar a minha mãe nunca me permitiu ter o luxo de escolher muito.

Trabalhei como ajudante em uma grande rede móveis, como vendedora em uma confecção, de recepcionista em uma fábrica de fusíveis industriais e de atendente de telemarketing em uma empresa de cartão de crédito.
Três anos após estrear no mundo corporativo, perdi o emprego pela primeira vez. Foram três vezes até agora. Fiquei arrasada, me senti inútil e sem chão. Entendi, com aquele primeiro episódio, que estava lidando com um mundo de gente grande e que precisaria de muito mais do que apenas ousadia para voar mais alto. Lembro-me bem que em meio aquele tsunami de decepção de perder o emprego, precisaria retomar o foco rápido e seguir em frente. Aprendi também que ninguém tropeça para trás, e anos mais tarde entendi que aquele foi um dos momentos mais importantes e educativos da minha vida profissional.
Como forma de indenização, recebi do antigo empregador, o subsidio para um curso de recolocação no mercado. Coisa muito rara para a época. As pessoas que terminassem o curso, teriam seu resumo de qualificações distribuído para um mailing de possíveis empregadores. Das cinco pessoas que foram demitidas junto comigo, apenas eu e mais uma amiga, terminamos o curso. Os demais se sentiram ofendidos com a oferta e se recusaram a participar do processo de recolocação.
Ao colocar minha mágoa e desapontamento de lado, conclui o curso e meu CV foi parar em um dos lugares mais incríveis que já trabalhei em minha vida. Começou naquele momento minha carreira no mercado financeiro.
Nessa época, com 23 anos, estava no terceiro ano da faculdade de Comunicação Social. Nem minha formação acadêmica nem minha experiência até ali não seriam suficientes para eu me manter em um mercado competitivo e seleto como aquele.
Comecei imediatamente a fazer plantão extra na faculdade para aprender informática. Nesse período, não sabia nem mesmo ligar um computador. Pedi ao professor que me desse aulas extras, pois meu novo emprego exigia uma habilidade que teria de ser adquirida em pouco tempo. Consegui!

Semanas depois, dominava todos os sistemas operacionais que precisava usar. Tempos mais tarde, liderei um projeto embrionário de tecnologia entre um grande banco e a empresa que trabalha. Liderei várias reestruturações de base de dados e de websites em diversas empresas e bancos que viera a trabalhar.
Alguns meses depois, percebi que mais uma barreira era preciso enfrentar: o inglês. Achava que seria absolutamente impossível eu aprender inglês àquela altura. Não tinha grana para pagar uma escola, pois tudo que ganhava para do estágio estava comprometido para ajudar na casa, a pagar os meses de faculdade atrasada e ainda me manter. Mas não suportava mais a ideia de participar de reuniões sem entender metade delas. Foi então, que um belo dia, sentada tomando um café na copa da empresa, que a secretária de um dos diretores apareceu. Me veio imediatamente a ideia de pedir para que ela me desse aulas de inglês na hora do almoço. Em troca pagaria a ela R$ 100 por aula. Reuni o office-boy, algumas secretárias, assistentes e consegui assim 10 pessoas para comigo rachar a conta. Depois disso, não parei mais de estudar. Anos mais tarde, ao receber como recompensa por uma meta batida um belo fim de semana em um resort de luxo no nordeste, reverti o prêmio em um curso de aperfeiçoamento da língua inglesa no Canadá. Hoje, o que parecia impossível para mim, é o que possibilita que participe de diversos fóruns internacionais de educação financeira representando a associação que trabalho, e que ministre palestras mundo a fora.
Olhando esses trinta e um anos de trabalho, vejo que o que me trouxe até aqui foi minha vontade de ir sempre mais longe, de sempre ter a certeza que, não importasse a função que desempenhasse, do salário que ganhasse, o que fazia era relevante e motivo de orgulho.


E foi com esse aprendizado que, no final de 2014, criei, conciliando minha vida executiva, mãe e mulher, o Dinheiro com Atitude. Mais um sonho de fazer a diferença e de fazer diferente. Um projeto que nasceu da minha vontade de compartilhar anos de conhecimento adquirido, com aqueles que precisam colocar a vida financeira em ordem. Com aqueles que precisam acreditar mais em si, que precisam elevar a autoestima e entender que são capazes.
Aprendi nessa vida que as coisas são como nós as vemos. E que não há, muitas vezes, como mudar o outro ou a situação. Mas, que é sempre possível se reinventar, se desafiar e mudar nossa forma de ver e entender as coisas. Que se as coisas são muito mais oportunas do que podemos imaginar. 

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